Descubra as desvantagens do tratamento de piscina sem cloro!
Com a infinidade de informações a que estamos sujeitos na internet, não é difícil encontrarmos textos e vídeos expondo as vantagens do tratamento de piscinas sem cloro. Porém, neste post, vamos abordar um ponto de vista diferente. Nossa intenção é ajudar o leitor a decidir se deve ou não continuar a tratar sua piscina com a utilização dos derivados clorados comumente utilizados em piscinas.
Como sabemos, os derivados clorados ou simplesmente, o cloro, é o saneante mais utilizado no tratamento de água em todo o mundo. Essa hegemonia é, ainda hoje, observada na manutenção de piscinas apesar da existência cada vez maior de alternativas: como o ozônio, a luz ultravioleta e o peróxido de hidrogênio.
Porém, será que é seguro e econômico tratar uma piscina eliminando totalmente a aplicação de cloro? Se você possui esta dúvida, não deixe de continuar a leitura.
Ozônio
Os aparelhos ozonizadores possuem a capacidade de gerar ozônio utilizando o oxigênio encontrado no ar do próprio local onde estão instalados. Característica que viabiliza sua utilização em piscinas, pois, elimina a necessidade de transporte deste gás – que é muito tóxico.
Porém, segundo JOHNSON, 1975, a maior deficiência desse gás como desinfetante é que, devido ao seu alto poder oxidante, o ozônio se torna muito instável, possuindo apenas um pequeno tempo de vida na água. Devido a essa característica, a desinfecção com ozônio não é capaz de prover um efeito residual que possa servir como indicador de garantia de segurança microbiológica.
Já, o autor Wojtowicz, em seu artigo publicado em 2001, afirma que os dados experimentais demonstram que o cloro é um oxidante muito melhor para os contaminantes provenientes dos banhistas (como a amônia, a ureia e a creatinina) os quais são oxidados lentamente pelo ozônio. Sendo assim, um dos benefícios mais propagados – de que o ozônio é um oxidante mais forte do que cloro – não é suportado por dados reais, ainda, segundo este renomado autor.
O ozônio não pode ser usado como desinfetante primário por causa de sua volatilidade e toxicidade. Se houver ozônio suficiente presente para uma desinfecção aceitável, a concentração de ozônio acima da água excederá a máxima concentração permitida, ao passo que se a concentração de ozônio acima da água estiver igual ou abaixo da máxima concentração permitida, então a desinfecção será inadequada.
Tiefenbrunner, 1982
Além das informações científicas mencionadas acima, a utilização de ozônio em piscinas tem seu risco aumentado devido as escassas informações técnicas fornecidas pelos poucos fabricantes existentes no Brasil. Por exemplo: os principais fabricantes – pasmem! – se negam a informar a capacidade de geração de ozônio de seus aparelhos! Sim, é isso mesmo que você acabou de ler! Se você, caro leitor, for comprar um aparelho para gerar ozônio (por exemplo, para uma piscina com 55 m³, que poderá custar quase R$ 2.000,00) o fabricante, por meio de seu vendedor, provavelmente, irá se negar a informar sua capacidade de produção – restringindo-se a determinar qual modelo de aparelho é o mais adequado para os diferentes volumes de piscinas.
Abaixo temos um “print” de uma conversa, realizada no dia 02/02/2021, entre o autor deste post e uma vendedora do maior fabricante de ozonizadores para piscinas do Brasil:
Tal falta de transparência por parte dos fabricantes de ozonizadores coloca seus consumidores em grande risco de exposição a níveis excessivos de ozônio, pois, “para piorar a situação”, a grande maioria dos equipamentos não analisa o potencial de oxirredução ou a concentração de ozônio na água.
Luz Ultravioleta
Quanto ao tratamento com luz ultravioleta, apesar de não criar subprodutos indesejáveis ao inativar algas, vírus e bactérias e de evitar o contato do desinfetante com os banhistas, possui a desvantagem de não disponibilizar efeito residual algum. Ou seja, se o ozônio possui uma meia vida de apenas 30 minutos na água (Wojtowicz, 2001), o que já é insuficiente, a luz ultravioleta não possui nem isso, agindo somente no instante em que a água passa pela lâmpada, sem proteger o volume armazenado no tanque.
Outras desvantagens em tratar uma piscina sem cloro, utilizando apenas a luz ultravioleta, é a sua incapacidade de oxidar impurezas, como a urina, suor, filtro solar, algas e demais microorganismos, existentes na água. O elevado custo com energia elétrica também deve ser considerado, uma vez que a motobomba precisa permanecer ligada initerruptamente – aumentando o gasto mensal em cerca de 200% em uma piscina com 50 m³.
Peróxido de Hidrogênio
Por fim, chegamos a um produto químico que vem sendo bastante comentado entre os tratadores de piscinas: o peróxido de hidrogênio ou, simplesmente, a água oxigenada.
Diferentemente das outras formas de sanitização mencionadas anteriormente, o peróxido é capaz de manter efeito residual, tornando, assim, a água protegida por um bom tempo. No entanto, piscinas não podem ser tratadas exclusivamente com este produto uma vez que ele não possui poder desinfetante suficiente para mantê-las livres de microorganismos – como foi observado no caso emblemático das piscinas verdes nas Olímpiadas do Rio 2016 e o rápido desenvolvimento de algas após a aplicação de peróxido de hidrogênio. Uma situação vexatória com repercussão mundial!
Outras desvantagens do peróxido são: a grande quantidade de produto necessário para a manutenção de uma piscina, o elevado custo (por volta de 4 vezes mais caro do que a desinfecção com cloro), o risco na estocagem (sendo comum casos de explosão de frascos), a dificuldade em obter sua concentração na água e, principalmente, o perigo de graves acidentes no manuseio do produto.
Conclusão
Ainda hoje, os únicos produtos que reúnem todas as características necessárias a um tratamento de piscina seguro e econômico são os derivados clorados, sendo elas: prolongado efeito residual, forte poder desinfetante, elevado poder de oxidação, estabilidade em estoque e custo relativamente baixo.
É importante salientar que a ABNT NBR 10818:2016 – que estabelece os requisitos de qualidade de água no tratamento de piscinas – determina que os produtos desinfetantes e sistemas de tratamento utilizados possuam eficácia, no mínimo, equivalente a do cloro livre.
Uma vez que diversos artigos científicos apontam que a eficácia tanto do ozônio quanto da ultravioleta é inferior a do cloro para os diversos tipos de contaminantes encontrados em piscinas, se faz necessário a utilização do cloro como desinfetante primário, mantendo-se no mínimo 1 PPM de cloro livre na água, e a utilização do ozônio ou da ultravioleta como desinfetantes secundários. Dessa forma, os benefícios gerados por esses sistemas alternativos são adicionados à segurança microbiológica que só o cloro é capaz de proporcionar, sem colocar em risco a saúde dos banhistas.
A aplicação de peróxido de hidrogênio em piscinas deve avaliada caso a caso, pois, na maioria das situações, é um tratamento complexo, perigoso e mais caro do que o tratamento com cloro.
Referências bibliográficas:
JOHNSON, J. D. Disinfection Water and Wastewater. By American Arbor Science Publishers, Inc. (1975). 425 p.
WOJTOWICZ J. A., “Use of Ozone in the Treatment of Swimming Pools and Spas”, Journal of the Swimming Pool and Spa Industry, (2001).
TIEFENBRUNNER, F., “Problems with the Direct Ozonation of Swimming Pool Water”, in Ozone Treatment of Waters for Swimming Pools, R. G. Rice, Ed., International Ozone Association, Norwalk, CT, 1982, p. 152.